quinta-feira, 28 de junho de 2012

A formação do leitor crítico: uma opinião

O direito de estudar, questionar e pesquisar é de todos

Por Rita Foelker


Já vi muitas discussões sobre o que se ter ou não se ter na livraria da instituição espírita, o que disponibilizar na biblioteca, o que anunciar, e decidi expor o que penso.
Penso indubitavelmente que o centro espírita precisa divulgar livros que passem noções corretas da doutrina espírita, assim como os boletins e jornais.
Mas "como fazer isso?", para mim, é a questão mais delicada. Precisaríamos resguardar essas avaliações, o máximo possível, da interferência de preconceitos e preferências pessoais, bem como de opiniões sem base doutrinária nenhuma. Será que conseguimos fazer isso? Ou seria preferível trabalhar para formar um leitor crítico, capaz, ele mesmo, de analisar e julgar o que lê?

Liberdade de pensar e questionar

No caso dos livros espíritas, o selo de uma editora conceituada não é garantia de coerência com a filosofia espírita. Então, creio que precisamos investir no outro lado: colocar os livros em discussão, incentivar questionamentos e pesquisas, possibilitar ao leitor aumentar seu discernimento. E nunca – mesmo! – abandonar o estudo das obras de Kardec.
O espiritismo não proíbe ler nada, mas vejo que algumas pessoas, preocupadas com a formação cultural do recém-chegado à casa espírita, criam medos e fantasmas em torno de certos autores e conteúdos, os quais não se justificam. E se essas pessoas representam, para alguém, autoridades dignas de confiança, ou são tidas como conhecedoras do assunto, a tendência será acatar suas observações. Por outro lado, o espírita deveria aprender a exercitar livremente sua razão, sem se guiar pela opinião deste ou daquele.
Algumas vezes, vimos dirigentes e formadores de opinião levantando bandeiras e atacando ideias (às vezes, até companheiros). E todo esse clima de “caça às bruxas” é preocupante, porque ele não é coerente com a visão espírita da liberdade de pensar. Buscar compreensão e esclarecimento é importante, mas nem todas as instituições espíritas ajudam realmente seus frequentadores a se esclarecerem nesse aspecto, a buscarem o suporte da razão. Definem o que deve ser lido e o que deve ser deixado de lado. Algumas que conheci queriam, mesmo, impor suas próprias interpretações.
Por isso, vejo que a solução é trabalhar na outra ponta, instrumentalizando o leitor para que ele seja observador, analítico, usando a razão e bom senso, sempre.
Também sou a favor de que as pessoas possam ler aquilo que lhes parece bom e interessante, aprendendo com isso a separar conteúdos relevantes de banalidades ou mesmo, de equívocos crassos.
Agora, existem casos de contradição flagrante aos princípios da doutrina, apresentada como se fosse espiritismo? Sim. Mas na maioria das vezes, as discordâncias dizem respeito a interpretações e pareceres pessoais sobre trechos e contextos em que estes se inserem.
Sejam ou não obras rotuladas de espíritas, acredito que precisamos tomar cuidado para não nos tornarmos censores baseados no nosso critério ou gosto pessoal – o que não é difícil de ocorrer. Os critérios deveriam levar em conta pura e simplesmente os postulados espíritas, as leis naturais, e não serem estabelecidos sobre preconceitos e opiniões sem base.
Enfim, ninguém pode afirmar o que “é” e o que “não é” espiritismo pois, com exceção das transcrições textuais da obra de Kardec, o restante fica submetido à maré dos pontos de vista.


Este texto está na Edição 03 do jornal Leitura Espírita, página 9.

E a tiragem dobrou, agora são 20 mil exemplares!