quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Luiz Gonzaga e o carinho dos pais

Lamentavelmente, algumas vezes na vida trocamos o essencial pelo supérfluo...

Por Pedro Camilo

Assistindo a uma entrevista concedida pelo saudoso Luiz Gonzaga à TV Cultura, na década de 70 do século XX, ainda em preto e branco e sem as demais tecnologias conhecidas nos dias de hoje, tive minha atenção atraída para uma fala muito significativa do músico.
Seu filho Gonzaguinha, também artista e presente à entrevista, endereça-lhe a seguinte pergunta:
- Eu queria saber: como foi tua infância?
Com a sua natural simpatia, o Rei do Baião respondeu, prontamente:
- Minha infância foi de menino pobre, mas não tão infeliz, porque eu creio que uma criança pobre, uma criança, enfim, dificilmente pode saber que é infeliz, desde que tenha o carinho dos seus pais. Isto não me faltou em casa.

Pensando sobre

Ouvir essas palavras assim, com a naturalidade e a autoridade de quem falava de si mesmo, me fez pensar um pouco nos valores que cultivamos e transmitimos a nossas crianças, inda mesmo sem o percebermos.
A todo instante, na luta frenética dos nossos dias, apesar de todos os valores espirituais e morais que temos aprendido a assimilar, nos prendemos em demasia às necessidades da vida material, condicionando nossa felicidade à compra de um carro, de uma casa nova, à realização de uma viagem ou mesmo à aquisição de um par de tênis.
Assim mergulhados no mundo do “ter”, conduzimos nossas crianças pelos mesmos caminhos, como referências que somos na formação de sua personalidade, inculcando em suas mentes que só é possível ser feliz quando se acumulam riquezas, esquecidos das coisas simples e de como a vida, em si mesma, é simples.
Aliás, o próprio universo infantil é simples, isto é, destituído de maiores necessidades. As crianças se alegram e festejam por pouca coisa, basta que se sintam agradadas, contempladas, atendidas em suas manifestações de afeto e correspondidas em suas peraltices.
De que nos adiantam os tesouros que o tempo consome, como na palavra do Cristo, se não entesouramos os nossos corações e o das nossas crianças com amor sincero, com carinho verdadeiro?
Quantos de nós ignoramos a força do afeto em meio às adversidades da vida e nos privamos, e às nossas crianças, de momentos felizes, apesar dos pesares?
“Uma criança”, lembra Luiz Gonzaga, “dificilmente pode saber que é infeliz, desde que tenha o carinho dos seus pais”, ao que poderíamos acrescentar: pessoa alguma poderá se saber infeliz, desde que receba e distribua afeto!
E se lembramos, ainda com Jesus, que precisamos ser como crianças para ganhar o nosso “reino interior”, que é o grande Reino de Deus, receberemos as sábias palavras do músico para nós mesmos, buscando no carinho da família, dos amigos e da Humanidade a resposta perfeita para os nossos momentos de infelicidade.

PEDRO CAMILO é advogado, professor universitário, escritor e expositor espírita. Trabalhador do Núcleo Espírita Telles de Menezes, de Salvador/BA. Autor de Yvonne Pereira, uma heroína silenciosa (Ed. Lachâtre) e Mediunidade: para entender e refletir (Ed. Mente Aberta), entre outros livros.

Este texto é parte integrante do Jornal Leitura Espírita, Edição 08, Dezembro de 2012, que traz ainda: