quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Farrah Fawcett: triste luta contra o câncer


“A luta de Farrah foi, muito provavelmente, desesperada – e por isso mesmo, foi uma luta contra o câncer, sem se reverter numa luta pela vida.”


Por Mª. Antonieta de Castro Sá

Há algum tempo pediram-me para traçar, com base em meu livro Câncer e vida, um paralelo entre o que aprendi e o que foi mostrado ao mundo pela atriz Farrah Fawcett, uma das protagonistas, da série de TV “As panteras”, por ocasião de sua luta contra o câncer que a levou a falecer.
Li extensa matéria divulgada sobre a moléstia da atriz e assisti ao vídeo intitulado “Farrah’s story”. Logo percebi que não seria fácil traçar o paralelo que me foi solicitado, porque minha trajetória na luta contra o câncer e a direção que tomei a partir da doença têm sido diametralmente opostas ao que a mídia revelou sobre Farrah Fawcett.
Para atender aquele pedido, pedi a Deus que me iluminasse, de modo que fosse capaz de me fazer entender sem qualquer conotação de julgamento ou de censura.
Quando um exame revela que a gente tem um câncer, de repente falta o chão sob nossos pés. Foi assim comigo, foi assim com as pessoas com quem tenho conversado, nesses anos, dentro e fora de meu consultório. Foi assim provavelmente para Farrah Fawcett.
Pelo menos no Ocidente o mundo acompanhou, por algumas décadas, a trajetória daquela moça lindíssima – dona de cabelos quase incomparáveis, de um sorriso amplo e marcante, de brilhantes olhos claros e de um corpo irretocável. Por que é que eu não menciono seus valores internos? Ela era realmente alegre? Era amorosa? Ou seria agressiva atrás do inesquecível sorriso que sempre exibia? Era calma? Agitada? Compassiva? Ou personalista? Parece que tivemos mais chances de conhecer o estilo de comportamento da personagem que ela encarnou em “As panteras”, do que de sua personalidade real.
O professor Robert Thompson, titular da disciplina de televisão e cultura popular da Universidade de Syracuse, em entrevista concedida ao jornal “The New York Times”, classificou-a como “uma das dez imagens mais bonitas da cultura pop norte-americana”.
O mesmo professor acrescentou: “Sua fama era turbinada pela cobertura de seus dramas pessoais em curso, como o casamento que falhou, com o ator Lee Majors, a relação confusa com Ryan O`Neal, o filho que se debate contra a toxicomania, o discutido vídeo da “Playboy” que a apresentou nua ... e sua aparição num show de TV, em 1997, que provocou polêmicas sobre seu estado mental”, enquanto ela declarava: “Tenho que fazer tudo para chegar às casas do público”.
E ela parece ter feito mesmo tudo, com este intuito: até filmar, por iniciativa própria, o desenrolar de sua doença e respectivo tratamento, inclusive em seus momentos mais íntimos e chocantes.
Dois objetivos foram citados por ela, ao filmar essa vivência: proporcionar alguma aprendizagem a outros que lutam contra o câncer e converter a renda financeira do filme em herança para a família. Ssim, pois o vídeo intitulado “Farrah’s story” não exibe a história de Farrah, senão a história do câncer que a acometeu e dos tratamentos que buscou.

Não haveria em seu coração uma herança menos mórbida para ser legada?

Dong Vaughan, vice-presidente de Especiais da NBC, assim comentou: “Farrah quis que víssemos a cara do câncer, apresentando os fatos relativos a seu diagnóstico e tratamento”.
Mas assistindo ao vídeo, eu me perguntei em vários trechos como teria me sentido se o assistisse durante meu próprio tratamento de câncer ou próximo a ele. Agora, após doze anos e com as compreensões que pude elaborar, até por força de minha profissão, aquele filme fez-me novamente chorar, experimentando profundo desalento por uma mulher que fora tão exuberante e abria mão de sua dignidade, ao expor publicamente as piores cenas que um câncer pode trazer à nossa vida.
Nada além de intensa revolta e angústia são transmitidas em “Farrah’s story”, porque nenhuma saída emocional e nenhuma nova compreensão são sequer insinuadas ali. Mostrar publicamente um sofrimento cruel não é exemplo de coragem, mas apenas de raiva e, até mesmo, de sadismo. O que, além de medo, aflição, ameaças e desânimo podem ser experimentados por outros doentes de câncer e seus familiares, diante das imagens do calvário de Farrah Fawcett?
O que eu li sobre sua luta e o que eu assisti foi uma expressão de intensa e generalizada raiva: o ângulo mais destrutivo que o câncer pode compor. Essa doença já é, em si mesma, desencadeada ou alimentada por profundas mágoas e rancores. E os tumores intestinais estão especialmente relacionados à raiva que não se pôde expressar ou converter para fins positivos – a medicina psicossomática e a psico-oncologia são claras sobre este assunto.
Querer “mostrar a cara do câncer”, como Farrah mostrou, é um exemplo muito triste de equilíbrio emocional precário. Uma imagem fala mais do que centenas de palavras, já se disse isto, portanto há imagens que não existem para serem exibidas, senão para serem traduzidas na luta construtiva que elas possam inspirar. A luta de Farrah foi, muito provavelmente, desesperada – e por isso mesmo, foi uma luta contra o câncer, sem se reverter numa luta pela vida.
É comum que nós, portadores de doenças graves, as usemos temporariamente como um troféu, na expectativa de granjearmos mais atenção e consideração dos que nos cercam – pois pessoas doentes passam, mesmo, por períodos de infantilização emocional. Mas até nesses períodos existe o objetivo inconsciente de descobrir novas forças, para seguir em frente com a coragem (esta, sim) preciosa do amor.
Certamente, uma mulher que foi cercada de tanta admiração e experimentou tão clara solidão, como também se divulgou, deve ter tido profundas e antigas razões para “se vender aos olhos do mundo”, em suas imagens mais desconcertantes.
Como era o ambiente que a cercou na infância? Além do filho preso por porte de drogas, por que ela só tinha o acompanhamento de um ex-marido e de duas antigas colegas da série de filmes de que fora coprotagonista? Por que ela precisava “se fazer aparecer nas casas do público” a qualquer preço? Onde sua casa interna, centralizadora de energias e protetora, pela presença de Deus?
Além de ter os spotlights do mundo voltados para sua figura de mulher bonita, que outras razões essa criatura teria para viver?
A vivência do câncer, já nos explicaram vários mentores espirituais, pode ter origem cármica, como pode ser semeada nesta mesma encarnação. Mas num ou noutro caso, Deus não é sádico e só poderia entremear a vida com experiências dessa estirpe, para que delas possamos extrair compreensões sobre a própria vida, que por outros caminhos não alcançaríamos.
Como eu gostaria de ter tido a chance de alcançar Farrah Fawcett, em algumas visitas reais ou, mesmo, virtuais! Como eu gostaria de ter tido a chance de conversar com ela sobre o amor que “pessoas” podem trocar, muito além do que se pretenda alimentar por nossos dotes materiais... Como eu gostaria de trocar com ela, ideias sobre a alegria de um coração que se dá por simples solidariedade, que procura compreender o outro como gostaria de ser compreendido, que por isso mesmo descobre a serenidade do perdão!
Como eu gostaria de tentar sensibilizá-la a identificar sua beleza real e definitiva, aquela composta nos meandros do coração, pela fé no amor de um Irmão que só veio a este mundo para nos guiar rumo à felicidade inevitável, do amadurecimento que pede esforços, mas que é irreversível no sentido da luz!
Então, talvez ela descobrisse um universo onde poderia brilhar para alimentar a vida em seu todo e não só no foco das expectativas materiais... Mesmo que este câncer não a poupasse, ela não teria conhecido a morte antes de conhecer a vida, como parece ter acontecido.

Mª ANTONIETA DE CASTRO SÁ é psicóloga e autora dos livros Câncer e vida, Câncer e família e Música a serviço do amor (Ed. Lachâtre). http://antonietadecastro.blogspot.com (blog)
mariantocastro@terra.com.br (email).



terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Pergunte aos espíritos



Algumas pessoas preferem não formular perguntas aos espíritos, esperando que eles se manifestem espontaneamente sobre os assuntos que mereçam sua atenção. E há quem se sinta receoso ou constrangido, quando surge a oportunidade de pedir aos orientadores espirituais algum esclarecimento.
Kardec trata do assunto em O livro dos médiuns, dizendo que, ao contrário do que muitos imaginam, as questões dirigidas aos espíritos são de grande utilidade, do ponto de vista da instrução. E elas também ajudam a desmascarar espíritos mistificadores.
É importante que usemos de um tom respeitoso ao inquirir os espíritos, mas sem receio de causar melindres. 
Quanto à forma, as perguntas que fazemos precisam ser claras e precisas, obedecer a uma ordem e encadear-se logicamente. As respostas obtidas dependerão do conhecimento que o espírito possui, do seu interesse pelo tema, da afeição dedicada a algum ou a todos os encarnados presentes, do propósito das perguntas e da utilidade que vejam naquilo que perguntamos.


Esta é a capa da Edição 10 do jornal Leitura Espírita, de Fevereiro de 2013: